Se alguém te pergunta: Qual é
seu nome, o que responde?
Logo que cheguei a Maringá,
(cidade em que moro hoje e que ainda é um tanto provinciana) quando as pessoas
perguntavam meu nome, eu respondia:
- Ana Carolina.
- Ana Carolina...Hum...do que?
Replicavam elas. E eu respondia
- Peck do Amaral.
Após a apresentação de meu
sobrenome sempre havia um Silencio – afinal, ninguém sabia quem eu era, porque
eu não era “das redondezas”.
- Quem são seus pais?
Insistiam. O que eles fazem? (Acredite, as pessoas ainda perguntam isso!)
Bom, quando chegava a este ponto
eu já ia logo explicando que eu era de São Paulo e que provavelmente não
saberiam mesmo quem éramos.
Da mesma forma, hoje, temos
vivido em meio a tantas adversidades que é como se estivéssemos sempre sem
identidade. Sou esposa, mãe, filha, psicóloga....a lista é interminável, da
mesma forma que são intermináveis os afazeres do dia-a-dia.
É certo que nosso nome não é
suficiente para retratar quem somos já há muitos séculos, mas nos dias de hoje
é impossível definir a nós mesmos em algumas palavras. Já reparou na descrição que
as pessoas postam no “quem eu sou” das redes sociais? É comum as pessoas
utilizarem poesias, músicas e até versículos, como um artificio “facilitador”
de descrição pessoal. Mas a verdade é que a maioria de nós não sabe quem é e
muito menos a que veio a este mundo.
Claro que, se formos “bons
cristãos” nos apropriaremos de frases prontas para falar sobre o propósito de
Deus em nossas vidas. Às vezes até afirmamos que somos amados por Ele. Mas a
grande verdade é que por vivermos em um mundo em que somo definidos pelo que
fazemos, e não pelo que somos, fica difícil se sentir realmente amado e aceito
todo o tempo.
Jacó certa vez encontrou-se com
Deus no Vale de Joquebode. Em meio um conflito espiritual, Deus pergunta a ele:
“Qual seu nome?”. Na cultura judaica seria o mesmo que Deus pedir a Jacó que
falasse sobre quem ele era, sobre sua família ou crenças. Moisés fez pergunta
semelhante ao próprio Deus ao encontra-lo no Monte . Isto, porque sendo dessa
mesma cultura, o nome lhe ajudaria a compreender melhor aquela experiência.
E então: Qual é o seu nome?
Vemos na bíblia a historia de
uma mulher que se deparou com o sofrimento extremo. Seu marido era um rico
fazendeiro e do dia para noite ele perdeu tudo o que tinha. Como se não
bastasse, chega a noticia de que seus filhos, que tinham ido visitar o irmão
mais velho que morava fora, haviam sofrido um acidente. Um vendaval muito forte
derrubara a casa em que estavam matando todos os que ali estavam. Essa mulher
havia perdido todos os seus bens e todos os seus filhos. Após alguns dias, seu
esposo começa a ficar doente. Sua pele começou a encher-se de feridas e é provável
que até seu hálito tenha se tornado insuportável. Em um ato de desespero, esta
mulher olha para seu marido e diz: “Amaldiçoa logo esse teu Deus e morre!”. Seu
marido mais que depressa a reprende dizendo: “Pare com isso mulher! Você parece
uma louca falando!”. A bíblia não nos diz o nome dessa mulher. Ela é uma mulher
sem nome. Com o coração ferido, sentia-se abandonada e desamparada.
Da mesma forma a bíblia nos conta
a história de uma mãe que sofria a anos com uma filha doente que apresentava
graves convulsões. A bíblia diz apenas que esta mulher era sírio-fenícia, mas
não menciona seu nome. Ao ouvir falar do Senhor Jesus, ela buscou encontra-lo
na cidade em que estava, se aproximou dele e suplicou que o Senhor curasse sua
filha. Jesus dá a mulher uma incompreensível resposta: “Mulher! Por acaso daria
um homem o pão de seus filhos aos seus cachorrinhos?” Na linguagem de hoje,
seria o mesmo que Jesus dizer: “Mulher, você nem é de nossa igreja, não participa
de nossos cultos, como quer receber os mesmo milagres?” Mas a mulher sabendo
com quem falava responde: “Senhor, bem sei que os cachorrinhos passeiam ao
redor da mesa e se contentam com as migalhas de seu senhor”. Jesus sabendo que
aquela mulher tinha compreendido que o mais importante era reconhecer Nele o
provedor de todas as suas necessidade curou sua filhinha!
Apesar de não sabermos muito
mais sobre estas mulheres, o relato bíblico nos mostra que a primeira mulher
recebeu as bênçãos depois do sofrimento, uma vez que Deus restituiu em dobro a
Jó, seu esposo, tudo o que havia perdido. No entanto, não sabemos se ela
reconheceu o Senhor como seu sustento e restaurador. Não sabemos se ela
desfrutou do privilégio do relacionamento com Deus.
Mas tenho certeza, que para a
mulher sírio-fenícia, foi um privilégio conversar com o Senhor Jesus sobre os
problemas que afligiam seu coração, sobre sua dor e tristeza. Fico imaginando
como ela contou para sua filhinha, a respeito de seu encontro com o Salvador, e
sobre como esse Jesus a havia curado sem nem precisar toca-la. Pela fé e
audácia que demonstrou ao respondeu Jesus, fico pensando o que disse a sua
filha ao saber sobre a morte de Jesus na cruz. Talvez ela tenha dito: “Este,
foi o homem que curou você, tenho certeza que sua morte não é o fim...!!” E
realmente não era.
Vivendo em meio a toda correria
do dia-a-dia, acabamos perdendo nossa identidade. Como as duas mulheres do
relato bíblico, ficamos como que sem nome, sem identidade.
Na primeira história vemos o
exemplo do que acontece quando estamos feridos por causa da nossa história de vida.
Sem a cura de Cristo, ferimos os outros, mesmo que sejam pessoas a quem amamos!
Quando estamos machucados emocionalmente, ou nos sentido desprezados, nada de
bom pode sair de nós, porque somos como árvores que produzem frutos secos. Mas
se permitirmos que o Senhor Jesus venha em nos para curar nossas feridas,
feridas que às vezes são muito profundas, nossa natureza passa a ser
transformada. Jesus nos dá uma nova identidade através do Espirito Santo, e
tudo em nos passa a ser novo! Se o Deus vivo habitar dentro de você e te curar,
sua história de vida receberá “novas memórias” e você será capaz de perdoar,
reconhecendo que Jesus amou você, mesmo sendo pecador.
Estou certa de que a história
dessas duas mulheres vem nos revelar a maior verdade de todas: Nós apenas
podemos nos definir a partir de um encontro com Deus. Moisés fez a pergunta
“Quem é você” para Deus. A resposta
certeira do Grande EU SOU, provam que o nosso Deus não pode ser definido, ou
renomeado por homens. Nós, ao contrário, só podemos nos definir, a partir de um
encontro verdadeiro com Deus, e o “ponto alto” de um encontro verdadeiro com Deus
é quando somos desmascarados por Ele. Sim, desmascarados!
Mas nós desenvolvemos um
“jeitinho” para viver bem, uma máscara que nos permite continuar a viver com
nossas dores e angustias. Só que Deus se recusa a se relacionar com uma
personagem. Deus quer um relacionamento genuíno com seus filhos. Ele quer que
nos apresentemos a Ele como somos. Lembremos, no entanto o que o salmista nos
diz: “Sonda o meu coração e vê se há em
mim algum caminho mal (...) Antes que haja uma palavra em minha boca, o Senhor
já me conhece (...) prova-me e conhece os meus pensamentos (...).” Se Deus
já nos conhece, porque espera que nos apresentemos a Ele? A resposta é simples!
É por causa de nós mesmos. Sim! Pois é apenas através de um exercício
espiritual de introspecção, a partir da ação do Espirito Santo de Deus em mim,
é que eu poderei ver minha real natureza. Aos pés da cruz, a natureza pecadora
fica exposta e minha necessidade de Deus fica aparente.
Não são suas ações que dizem
quem é você de verdade. Antes de agir, podemos pensar e planejar, podemos
inclusive dissimular. Mas no seu relacionamento com Deus, suas verdade ficam
expostas e você é avaliado. Avaliado pelo Espirito Santo, para ser quebrantado
pelo Espirito do Deus Vivo, para ser então transformado. Quando eu permito que Deus
forme em mim uma nova identidade, tudo aquilo que eu não sou, posso ser Nele.
Por meio de Jesus, posso ter uma nova identidade e um novo nome.